Os dedos dele não paravam de tremer enquanto na fila de
carro as buzinas pediam por passagem no transito quilométrico daquela tarde.
Logo se moviam para suas mãos e depois o corpo inteiro até parecer que ocorria
um terremoto dentro do carro. Logo a voz que saia do rádio e as buzinas viram
zunidos e se extinguiram em ruídos na tarde eterna. Era como uma cena de novela
onde nada era problema e que tudo se resolve com um simples sim. É, o menino
sorria e sorria e se banhava com toda a felicidade que a chuva derramava,
apesar de quê, a chuva, sempre trazia o contrario, e hoje, era para se
comemorar. Os planos davam certos e tudo parecia se encaixar como lego e cada
encaixe de peça se repetia o refrão da sua música preferida e um longa história
de esperança rolava na sua cabeça, várias e várias vezes.
Nada parecia impossível
naquele momento, e ele era capaz de acreditar em todas as coisas. Não, apesar
de não entender tanta felicidade, ele se deleitava como criança em dia de Cosme
e Damião. Era festa com direito a chuvas de doces. E como toda festa,
contagiava qualquer pessoa. Sim, aquele dia foi único e as pessoas pareciam
acreditar que ele recebeu um presente maior que qualquer compreensão, algo como
ganhar na loteria ou uma viagem internacional com tudo pago. Ele não tinha ganhado
nada disso e esses prêmios não pareciam ter valor. Ele não trocaria nada pela
felicidade daquela tarde.
Era começo, era meio e não se
tinha fim. O amor parecia bater na sua porta e derruba-la raivosamente e sem
saber se poderia se sentir à-vontade. E mesmo que um dia ele sofra, as
primeiras 4 horas de felicidade eterna que ele teve foi o suficiente para toda
uma vida sofrida e de várias madrugadas de choro. Para quem não tinha nada
aquilo sempre foi tudo. E pra quem tem tudo, nunca houve nada. Até que se foi.
Mas se foi, volta. Volta para de baixo da manta verde que ele te aguarda. Leve
contigo toda aquela garoa de felicidade e esse vento sul pra companhia que,
mesmo que seja inverno, não há frio que o encontro de seus corpos não se torne
verão embaixo daquela manta.
É verdade o que eu te digo. Eu estava ali
o tempo todo...